quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Adeus 2014. Vamos ao 2015

E lá chegamos ao último dia e post de 2014. Vamos ao 2015!




Desejo a todos os leitores e amigos deste blog um Feliz Ano de 2015.

Um abraço e até 2015...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Vista geral - 1969

De regresso com postais de outros tempos, e com o Torga à mistura!


Devo à Paisagem as Poucas Alegrias que Tive no Mundo

Devo à paisagem as poucas alegrias que tive no mundo. Os homens só me deram tristezas. Ou eu nunca os entendi, ou eles nunca me entenderam. Até os mais próximos, os mais amigos, me cravaram na hora própria um espinho envenenado no coração. A terra, com os seus vestidos e as suas pregas, essa foi sempre generosa. É claro que nunca um panorama me interessou como gargarejo. É mesmo um favor que peço ao destino: que me poupe à degradação das habituais paneladas de prosa, a descrever de cor caminhos e florestas. As dobras, e as cores do chão onde firmo os pés, foram sempre no meu espírito coisas sagradas e íntimas como o amor. Falar duma encosta coberta de neve sem ter a alma branca também, retratar uma folha sem tremer como ela, olhar um abismo sem fundura nos olhos, é para mim o mesmo que gostar sem língua, ou cantar sem voz. Vivo a natureza integrado nela. De tal modo, que chego a sentir-me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou nevoeiro. Nenhum outro espectáculo me dá semelhante plenitude e cria no meu espírito um sentido tão acabado do perfeito e do eterno. Bem sei que há gente que encontra o mesmo universo no jogo dum músculo ou na linha dum perfil. Lá está o exemplo de Miguel Angelo a demonstrá-lo. Mas eu, não. Eu declaro aqui a estas fundas e agrestes rugas de Portugal que nunca vi nada mais puro, mais gracioso, mais belo, do que um tufo de relva que fui encontrar um dia no alto das penedias da Calcedónia, no Gerez. Roma, Paris, Florença, Beethoven, Cervantes, Shakespeare... Palavra, que não troco por tudo isso o rasgão mais humilde da tua estamenha, Mãe!

Miguel Torga, in "Diário (1942)"


(Bilhete postal da edição de "Casa Rodrigues - Vidago" - Julho de 1969)


Um abraço e até breve...

domingo, 14 de dezembro de 2014

CATÁSTROFE NA PONTE DE OURA - 1964/2014

- Foi há meio século!

No próximo dia 20 de Dezembro, e por volta das 18 horas, completam-se 50 anos após o fatídico acidente rodoviário que vitimou sete pessoas, quatro das quais, naturais de Vidago.

Era véspera de Natal, estávamos em 1964. A partir do início desse ano começavam a regressar ao Continente os primeiros contingentes militares que haviam partido em 1961 e 1962, para a Guerra Colonial, em Angola.

A Vidago, havia recentemente chegado o Aníbal Almeida, um filho da terra. A humilde e simples família do simpático e discreto rapaz, preparava-se para festejar um Natal tranquilo e feliz, na companhia do seu desejado e regressado familiar. Porém, estava destinada à vila, naquele ano, uma quadra natalícia horribilis. Esfumou-se a festa preparada no seio dos seus ao ente querido que, lá longe, em terras de África e durante dois anos, sofrera a separação familiar e a incerteza do regresso. Porém, a paz, a harmonia e o amor esperados dariam, assim, lugar à inquietação, à angústia e à dor.

Mas a vila foi também atingida pelo desaparecimento de mais três pessoas naturais e residentes em Vidago: José Joaquim Ferreira – José Calceteiro; José Gertrudes – José Lindinho e Maria Alice Sousa Teixeira, de 7 anos, cujos pais eram comerciantes na localidade.

A instituição futebolística da terra, designada por Vidago Futebol Clube, tinha naquele triste Domingo, aprazado um jogo de futebol com a sua congénere de Vila Pouca de Aguiar – o Sport Club Vila Pouca. Alguma, saudável, rivalidade entre os dois clubes - que ainda hoje persiste - terá suscitado considerável mobilização dos apaniguados vidaguenses, visando o sempre útil apoio humano à equipa local.

Naquele tempo, o parque automóvel da localidade era escasso. Então, estes eventos originavam, normalmente, o aluguer de um ou mais autocarros que transportavam, festivamente, gente de todas as idades, que aliava ao apoio da sua equipa, a possibilidade de desfrutar de um alegre passeio e saudável convívio.

Naquela fatídica tarde de Domingo, mais uma normal contenda desportiva chegava ao fim, entre os dois clubes. As pessoas ocuparam os respectivos lugares, no grande autocarro vermelho e amarelo CI-85-37, marca Scania, propriedade da Auto Viação do Tâmega e conduzido por Germano Carvalho Baptista, de 32 anos, natural de Vila Verde da Raia que havia de perecer no brutal acidente.

Estado em que ficou o autocarro da Auto Viação do Tâmega
A viagem de regresso iniciou-se e, na mente dos aproximadamente, cinquenta passageiros, não pairava a menor ideia do que viria a acontecer-lhes, mais ou menos, trinta minutos depois. Após a passagem por Sabroso, surge o ponto mais elevado do Reigás e ali começa a acentuada descida de meia dúzia de quilómetros, até Vidago. Depois daquele local, alegadamente, o motorista ter-se-á apercebido de uma anomalia no sistema de travagem. Não escondeu aos passageiros a sua angústia, tendo contagiado todos, levando-lhes o terror por ele sentido. Iniciou-se uma corrida louca e vertiginosa pelas curvas sinuosas da então mais estreita Estrada Nacional 2. Uma gritaria bem própria de um filme de terror, fazia ouvir-se no interior do autocarro, agudizando-se ao aproximar de cada curva mais fechada. A perspectiva do desenlace iminente pairava no cérebro enlouquecido de todos. Depois de uma boa dúzia de curvas feitas e desfeitas, às vezes com os grandes rodados a descolarem do chão, chegou, por fim, o dramático momento.

Muito próximo de uma passagem desnivelada da CP, quase ao entrar em Oura, o autocarro perdeu, definitivamente, o controlo. Embateu, estrondosamente, numa furgoneta (HI-54-88) de Santa Senhorinha – Cabeceiras de Basto, conduzida por António de Oliveira Neiva, de 24 anos, que, em sentido contrário, circulava, transportando hortaliça. Ao lado do motorista seguia seu pai, Joaquim Augusto Neiva de 57 anos que, também, faleceu no acidente. Em consequência da colisão, o autocarro precipitou-se para a linha dos caminhos-de-ferro, ficando suspenso sobre os carris e numa posição atravessada. Porém, enalteça-se uma sorte incrível, no meio de tão enorme desgraça. É que, minutos depois, estava prevista a passagem naquele local, de uma composição ferroviária procedente da Régua.

Estado em que ficou a furgoneta de Joaquim Augusto Neiva
Da amálgama de ferros retorcidos do autocarro, começaram então a ouvir-se gritos lancinantes de dor e também de terror da maioria dos sobreviventes. Sete pessoas (quatro de Vidago), o motorista do autocarro, natural de Vila Verde da Raia, Chaves e os dois ocupantes da furgoneta, também interveniente no acidente, pereceram de imediato.

Relativamente aos quatro falecidos da vila, a que já atrás fiz referência, evoco os nomes de José Ferreira (José Calceteiro), José Gertrudes (José Lindinho), Aníbal Santos de Almeida e Maria Alice Sousa Teixeira. O pai desta e também seu irmão, respectivamente Secundino Teixeira e José Manuel Teixeira, viajavam igualmente no fatídico autocarro.

Os restantes ocupantes do autocarro, quase todos feridos e alguns com mazelas que os marcariam para o resto das suas vidas, começaram então a ser transportados para o hospital mais próximo. O silvar das sirenes das ambulâncias arrepiava, tantas eram as viaturas envolvidas nos socorros e tão grande era a sua azáfama. Viaturas particulares colaboraram como puderam. Alguns de nós recordam, ainda, como Ilídio Covas atravessou, várias vezes, a vila a uma velocidade estonteante, a caminho do Hospital de Chaves. Mas outras pessoas com viaturas próprias ou cedidas colaboraram, estoicamente, como puderam!

Familiares e amigos dos acidentados, acorreram ao local, angustiados e desnorteados com a incerteza do estado físico dos seus. O desencarceramento foi trabalho duradouro e difícil. Abnegadamente, bombeiros e populares, num labirinto de braços, fumo, chapa e ferros retorcidos, lá iam ajudando como podiam no socorro aos sinistrados.

Cabe, aqui, recordar uma cena invulgar constatada no interior do autocarro e presenciada por João Salvador Varandas, natural de Oura. João, Desidério e Albano terão sido as primeiras pessoas a chegar ao local do sinistro. Em depoimento para esta crónica, João, descreveu a forma como encontrou uma criança (António, filho de Alda e António Almeida). O menino comia, serenamente, um pão com marmelada, naquela amálgama de destroços. Olhando para João Varandas suplicou-lhe: - “Maeco” tira-me daqui!... A criança (agora a viver nos USA) terá confundido o João Varandas com um filho de Abel e Ana Malhadas, de Vidago.

Comunicação social, escrita e falada, oriunda de todo o país, foi chegando a Vidago, naquela noite escura e gelada de inverno. Refira-se que a televisão, naquele tempo, não era ainda visível na localidade. Jornalistas fotografavam e entrevistavam familiares de sinistrados que, desesperadamente, choravam a triste sina dos seus feridos e, nalguns casos, dos seus mortos. Homens, mulheres e crianças menos fustigados pela violência do acidente espalhavam-se pelos cantos das suas humildes casas, com ar atordoado e incrédulo, pelo que acontecera horas antes. Pensos de várias dimensões e ainda ensanguentados, seguros com cruzes de adesivo por todo o corpo, conferiam um ambiente de dor e angústia, em vetustos, pobres, mas honrados lares, onde alguns sinistrados recebiam o conforto, possível, dos amigos e conterrâneos.

Já bem pela noite dentro e com a geada a começar a cair, grupos de pessoas, ainda mal refeitos do que acontecera, faziam os comentários de circunstância. Rara era a família que não estivesse directa ou indirectamente ligada a alguém interveniente na catástrofe. Por isso, a tristeza a todos tocava. Não mais podemos esquecer o rosto enrugado, frio e tenso de alguns homens que, ali parados e atentos ao mais ínfimo pormenor da conversa, se protegiam do frio daquela tenebrosa noite, envolvidos nas velhas e coçadas samarras. A sua presença reflectia, também, a solidariedade bem peculiar, em circunstâncias difíceis, das pessoas que habitam pequenas localidades!

Naquele tempo exerciam medicina em Vidago os ilustre médicos, João Canavarro e José Manuel Abreu. Com os precários meios que certamente dispunham face a tão grande catástrofe providenciaram de forma ética e abnegada, os primeiros socorros nos respectivos consultórios, a duas dezenas de feridos, encaminhando os casos mais delicados para o Hospital de Chaves. Casava-se naquele dia uma filha de Camilo Otero (Alzira) para cuja cerimónia havia sido convidada a família do Dr. João Canavarro. Mal teve conhecimento da tragédia, o médico regressou imediatamente ao seu consultório onde, com a preciosa ajuda da sua eterna empregada Ondina (na altura ainda solteira), suturou, na medida das possibilidades logísticas, os doentes que se espalhavam desordenadamente por vários compartimentos da sua habitação. A este propósito e em depoimento ao autor destas letras, Berta Canavarro e sua filha (a médica, Adelaide Canavarro) recordaram o ambiente de consternação e sofrimento evidenciados pelos sinistrados que, em sua casa, aguardavam o socorro possível, naquelas precárias condições. Consta que o Dr. José Manuel Abreu estava ausente naquele dia, mas terá chegado a tempo de prestar importante ajuda ao colega de ofício.

Nessa noite, e após haver dado a assistência que lhe foi possível no seu improvisado estabelecimento hospitalar, em Vidago, o médico João Canavarro seguiu para o Hospital de Chaves, coadjuvando os Drs. Arnaldo Videira, Augusto Fernandes Carneiro, Cipriano Costa, Júlio Morais Caldas, Raimundo de Oliveira e Ramiro Teles Grilo em várias intervenções cirúrgicas que viriam a decorrer ao longo da noite.

Uma nota curiosa prende-se com o facto de Ondina (empregada do Dr. João Canavarro) ser, nesse tempo, ainda namorada de João Portelinha que também havia acompanhado a equipa de futebol utilizando o autocarro de má memória. Desesperada, a pobre rapariga ia, aflitivamente, perguntando a todos os sinistrados pelo João. Como a resposta fosse invariavelmente evasiva, chegou a temer que ele estivesse entre os que haviam perecido. Porém, estava-lhe reservada uma tranquilizante notícia: o João Portelinha resolvera regressar de comboio em vez de reutilizar o autocarro. O destino é mesmo assim: frio e mais que imprevisível!

Também Francisco Carneiro e seu filho, Francisco Artur escaparam àquele doloroso transe. A então empregada de sempre daquela família, Maria, por feliz descuido, terá atrasado o almoço. Como consequência, pai e filho não se aprontaram a tempo de embarcar no fatídico autocarro, facto que lhes pode ter obviado graves problemas físicos, ou mesmo o pior. Deus escreve direito por linhas tortas!

Ainda tenho na memória uma imagem que guardarei para sempre, junto à Estrada Nacional e ao fundo da rua da Ermida: António Parada – popularmente conhecido por Toninho Manco, permitira que seu filho (Tó) também tivesse ido ao futebol no autocarro. Não estando perfeitamente conhecedor das verdadeiras consequências pessoais da catástrofe e temendo o pior, fazia infinitos círculos com o seu triciclo, ao tempo ainda sem motor, gritando de forma lancinante, criando à sua volta um ambiente de grande consternação.

Joaquim Aguiar, então empregado comercial em Vidago, foi uma das pessoas intervenientes na tenebrosa odisseia. Num depoimento que concedeu ao autor desta crónica recordou detalhes empolgantes e ao mesmo tempo alucinantes da catástrofe. Contou que o motorista do autocarro, a partir do momento em que se apercebeu do drama que a todos esperava, se pôs de pé com as mãos ferreamente agarradas ao volante. Desesperado, ia gritando para Júlio de Sousa (Júlio da CHENOP) que aconselhasse os restantes passageiros a segurarem-se bem, pois os travões tinham rebentado! De preferência, que se encostassem, o mais possível, à traseira da viatura! Ao mesmo tempo, aterrorizado, o infeliz motorista, Germano Carvalho Batista, ia gritando: – Agarrem-se que estou sem travões! E, já quase no fim, em pânico: – Agarrem-se todos que estamos perdidos! Consta que alguns se amarraram de forma aterradora aos respectivos bancos. Imagine-se a consternação vivida por todos! Cada curva desfeita provocava um arrepiante brado, por parte dos passageiros. Nas suas mentes ia passando a ideia do que estaria para acontecer na curva seguinte. Joaquim Aguiar ter-se-á agarrado de forma tão aflitiva, que se ferira gravemente nas mãos. Só tem memória do ocorrido até ao momento em que se deu o embate. Depois, perderia os sentidos apenas recuperados já no consultório médico, em Vidago.

Albano Salgado
Um outro facto relevante a evidenciar prende-se com o impedimento da envolvência do comboio, no sinistro. Àquela hora, aproximava-se do local e com destino a Chaves, uma composição ferroviária da Linha do Corgo. Albano Rodrigues Salgado de vinte anos, Desidério Caetano Leite, de vinte e sete, então empregado da VM&PS, e ainda José Maria Justo de vinte e dois, após presenciarem o acontecimento, logo admitiram a iminência de uma catástrofe de proporções incalculáveis. Assim, sob o manto espesso e frio da noite, as três abnegadas criaturas foram ao encontro do comboio, fazendo sinais aflitivos com o intuito de fazerem parar a composição. Como o não conseguissem, a muito custo, um deles (Albano Salgado) guindou-se para dentro de uma carruagem, avisou o revisor do sucedido e o comboio parou, milagrosamente, quando o alarme foi accionado.


Muita gente envolvida neste aparatoso e inesquecível acidente foi resistindo à lei da vida, durante largos anos, ainda que com eternas mazelas. Foram disso exemplo Alberto Pinto Carvalho, Alda Brás Portelinha, Ana Maria (Farrica), António Araújo (Ruço), António Guilherme Brás, António dos Santos Parada, Cândido Brás Portelinha, Firmino Correia – que ao tempo era Director do V.F.C., juntamente com Júlio de Sousa - Fernando Ferreira, Inácio da Silva, Joaquim Aguiar, Joaquim Moura, José Manuel Teixeira, Júlio Sousa (Carroças), Maria Augusta Portelinha, Maria Clara Portelinha, Rui Fernando Portelinha, Sebastião Aguiar e Secundino Teixeira, entre outros. Uns quantos carregaram até ao fim das suas vidas o sofrimento das mazelas físicas causadas pela violência do sinistro. Quem não se lembra de António Almeida (António Andorinha), e da debilidade física em que o acidente o deixou para sempre! Também Celeste Pereira Dias (esposa de Alberto Pinto), arrastou a mesma cruz até ao fim dos seus dias!

Mas se a maioria dos sinistrados acabou por recuperar, fisicamente, ao longo dos anos da enfermidade provocada pela catástrofe, ainda existem pessoas que dificilmente se libertarão do trauma psicológico e de alguma incapacidade sofrida. Felizmente alguns, e obviamente cada vez menos, ainda por cá estão para testemunhar o sucedido.

Resta evocar alguns nomes que compunham, naquela época, o plantel do V. F. Clube e na base do qual se constituiu a equipa que, em Vila Pouca de Aguiar, disputou um desafio de futebol. Com resultado desfavorável de (2-1) para os vidaguenses – o facto menos relevante – e cujas consequências para os conterrâneos que os apoiaram, ficarão triste e eternamente gravadas na memória de todos, recordemos os seguintes nomes: António Almeida (Preto); António Almeida (Tó Andorinha); Augusto (Toscas); Barico; Boticas; Cardoso; Fausto Aguiar; Ilídio; Jorge Rôxo; Malano; Manuel Almeida (Maneca); Mário (Cascarrôlho); Mário Chaves; Óscar e Zézinho. Fernando Lino, natural de Vassal e na altura a residir em Chaves era o treinador.

Ao fim da tarde de 22 de Dezembro de 1964 realizaram-se em Vidago os funerais de cinco das sete pessoas falecidas na catástrofe. Os corpos foram transportados desde Chaves pelos Bombeiros de Salvação Pública daquela cidade. Um enorme cortejo fúnebre acompanhou, sentidamente, os corpos das vítimas. Entre outras figuras viam-se o vice-Presidente da Câmara de Chaves, Dr. Mário Gomes Pereira e os vereadores da autarquia flaviense, tenente Palmeira e Eng. Arménio Rodrigues. Também o então Presidente da Câmara de Boticas, Albino de Oliveira e o Administrador da Vidago Melgaço & Pedras Salgadas, Dr. João António Serôdio estiveram presentes. Os reverendos João Costa e Adolfo de Magalhães, na altura pároco de Vidago, foram os responsáveis pelas cerimónias religiosas.

Cinquenta anos depois, tanta coisa mudou: constatam-se profundas alterações aos hábitos dos cidadãos locais: o parque automóvel é mais vasto e já não se efectuam excursões, como dantes, para viagens tão curtas; também a via-férrea a que aqui se alude foi extinta desde 1990. Mas, pior que tudo isso, já não comunga connosco destas recordações tanta gente à qual o implacável calendário da vida lhe pôs fim!

Texto - Floripo Salvador
Imagens - Júlio Silva
Dezembro 2014

Um abraço e até breve...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014



VIDAGO PALACE 

Quanta beleza
Nos mostra a natureza
Quanto encanto
Nos descobre o seu manto!

Tuas pedras endeusadas
De existência secular
Lembram míticas fadas
Por ali a pairar!

Quantos amores escondidos
Em romances envolvidos
E em tempos de devaneio
Albergaste no teu seio!

Quantas mulheres belas
De silhuetas formosas
Sob copas frondosas
Viveram sonhos de amor
Dignos de figurar em telas
Em quadros multicolor!

Foste palco nupcial
Em majestosa escadaria
Em tarde dominical
Escolhendo tua fantasia
Fazia-se a fotografia
Guardando-se para sempre
O retrato de tanta gente!

Ouvem-se aves que entoam
Autênticas melodias
E o perfume que paira no ar
À memória nos faz chegar
Toda a tua história secular
De tempos que voam
Na espuma dos dias!

No fundo de um vale serrano
Desafias pintores e telas
A contar infinitas janelas
Tantas como dias tem o ano!

Como é interessante visitar-te
E delicioso conhecer-te
Depois, é fácil amar-te
Difícil ignorar-te
Imperioso divulgar-te
E impossível esquecer-te!


Floripo Salvador
Novembro 2014


segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Boas Festas - 2014

A todos os amigos e leitores deste blog, votos de um Feliz Natal!


Publicidade às Águas de Vidago, para calendário de parede da Empresa Melgaço Vidago & Pedras Salgadas alusiva ao Natal, com a estância termal de Vidago no rótulo da garrafa (1º plano), e com os três Reis Magos, como "pano de fundo". Ilustração de Cruz Caldas enquanto empregado, litógrafo maquetista, na Empresa do Bolhão, no Porto.

Um abraço e boas festas...

terça-feira, 25 de novembro de 2014




    HOTEL DO GOLFE

Foram décadas de história
Marcadas na nossa memória!
Quantas recordações
De aquistas e veraneantes
Quantas ilusões
Trocadas por amantes!

Um dia, tudo o fogo levou
E todo o esplendor
Do que foi uma bela flor
Enfim, se esfumou!

Eis agora o que resta!
Um paraíso em escombros
Erigido por humanos ombros
Em tempos que foram de festa!

Quando com ele cruzamos
E o seu fulgor recordamos
Sentimos a nostalgia
Do que de belo ali havia!

São décadas de tristeza
Que apagaram tanta beleza!
Grandes plátanos chorosos
Aguardam ansiosos
A humana piedade
Consentânea com a sua idade!

Haja, porém, a ilusão
De que nem tudo está perdido!
Outros homens virão
E no lugar que está ardido
Ressurgirá um hotel novo
Para alegria do povo!

Floripo Salvador
Novembro 2014


(Bilhetes postais e fotografias de Júlio Silva)

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Vidago, na Baixa do Porto!

Na Baixa do Porto há algumas "Mercearias Finas" que apostam no comércio de produtos de outras regiões. Do fumeiro ao mel, das compotas ao artesanato e peças decorativas, as lojas procuram divulgar e trazer aos portuenses um pouco da sua tradição. Uma dessas mercearias chama-se "Comer e chorar por mais" e é uma das casas mais antigas da cidade do Porto. A loja, onde ainda prevalece um ambiente do princípio do século XX, é conhecida pelos produtos transmontanos.

Já há alguns anos, no início de Novembro, é possível encontrar nozes transmontanas, e de Vidago!

Este ano não resisti e lá fui eu perguntar à funcionária mais antiga da loja, Conceição Ferro, se as nozes eram mesmo de Vidago ou dos arredores.

Conceição Ferro respondeu-me:
 -Sim, as nossas nozes são de Vidago! E o Senhor conhece Vidago?
- Conheço sim, minha senhora!
- Então, se conhece, estas nozes são do Sr. Rui, filho do falecido Sr. Lopes, e são um luxo!
- Obrigado, fiquei contente em saber. Não vou comprar mas posso tirar uma fotografia?
- Claro, só pelo ar de felicidade do senhor, pode tirar as que entender!

E, lá tirei do bolso o meu “smartphone” para fotografar as belas nozes de Vidago!



Parabéns ao Rui Lopes por conquistar, com as suas nozes, uma das “Mercearias Finas” mais procurada e visitada da Baixa Portuense.



A loja fundada em 1912, na rua Formosa, já foi papelaria, casa de cafés e chás e mercearia. Em 1970, passou a loja de produtos alimentares e até hoje só vende produtos nacionais. Em 2013, "Comer e chorar por mais" foi distinguida pela "Revista dos Vinhos" como a melhor casa de produtos regionais do país.

Um abraço e até breve...

sexta-feira, 14 de novembro de 2014



Vidago (Rio Pequeno)

Desce, desde tempos ancestrais
De terras de Lagarelhos
Banhou hortas e cereais
Sustentou novos e velhos!

Quantos terrenos agricultados
Foram por ele regados
Quanto pão se criou
Quanto estômago se saciou!

Prateados cardumes ali viveram
Quantos homens ali pescaram
Quantas merendas se comeram
Em tempos que não voltaram!

Em cálidas tardes de Verão
Quantos meninos sem mar
Vestindo humilde calção
Ali aprenderam a nadar!

Quantas mulheres lavaram
À sombra de choupos e negrilhos
Roupa que sujaram
Os maridos e os filhos!

Que saudades das noras
Das suas pancadas sonoras
E dos pachorrentos asininos
Que encantavam os meninos!

Quantos melros e cotovias
Rouxinóis e outras aves
Entoaram belas melodias
Que nos deixaram saudades!

Tem nome de “Pequeno”
Para Vidago foi grande e sereno.
Sê-lo-á por décadas a fio
O nosso querido rio!

Floripo Salvador
Novembro 2014



(montagem de postais antigos - Júlio Silva)

domingo, 9 de novembro de 2014

Antigas casas comerciais

Hoje publico duas páginas do Almanaque de Chaves de 1949, que contém publicidade de antigas casas comerciais de Vidago. Muitas pessoas ainda se recordarão delas, eu ainda recordo algumas!





Agradeço ao amigo F. Cadete a gentileza pela oferta deste Almanaque, um bem haja!

Um abraço e até breve,

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Cruz Caldas, o publicitário ao serviço da VM&PS (7)


VOZ

Coimbra, 6 de Abril de 1943

Era o céu que sorria nos seus olhos,
Eram junquilhos trémulos aos molhos,
As flores do rosto que eu beijava.
Fresca e gratuita como um hino à lua,
Nua,
Era um mundo de paz que se entregava.
Oh! perfume da Vida! – gritei eu.
Oh! seara de trigo por abrir,
Quem te fez todo o pão da minha fome?
Mas, os seus braços, longos e contentes,
Só responderam, quentes:
- Come.

           Miguel Torga, "Diário II"



Esboço a aguarela para publicidade às Águas de Vidago, por Cruz Caldas enquanto empregado, litógrafo maquetista, na Empresa do Bolhão, no Porto.

Um abraço e até breve...

segunda-feira, 3 de novembro de 2014



O Cemitério de Vidago


(Fotografia de Augusto Oliveira)
Visitamo-lo de vez em quando. Sempre que um familiar ou um simples amigo parte, lá estamos, por imperativos sociais e morais, mas também por devoção. Sentimo-nos invadidos por uma força interior muito grande que nos impele ao derradeiro acompanhamento e ao último adeus. Por isso, lá vamos! Silenciosamente, ar pesado e triste, passada lenta e certa. De vez em quando procedemos à obrigatória romagem.

Sempre a existência humana se viu confrontada com a mais radical das situações limite: a morte! Na sua relação com o Criador, a dimensão espiritual do crente vai-se manifestando em palavras e atitudes, actos e gestos. A morte é, de facto, um evento único e irrepetível na vida de cada ser humano! É, pode dizer-se, o horizonte natural da nossa existência. Independentemente da religião que professe, o homem sempre haverá de venerar os seus mortos. Sempre providenciará o seu enterramento, dignificando, consoante a sua mentalidade e também as suas posses económicas, os que desta vida vão partindo!

Quando se chega à minha idade e o cabelo começa a ficar pigarço, toma-se mais consciência da verdadeira realidade que somos e do destino que cada um de nós tem, neste mundo. Ocorre-nos mais frequentemente a incontestável ideia de que, cada dia que passa é menos um neste encontro com Deus. Neste encontro com o infinito - podemos afirmá-lo! Para muitos crentes, e não só, existe vida para além da morte. Respeitemos essa ideia! Porém, o que nos parece inquestionável é o facto de existir morte para além da vida! Mas, tudo isto está muito bem feito! Quase perfeito, diria mesmo! O avanço na idade se por um lado nos pesa (e a muitos de nós aflige porque arrasta, paulatinamente, consigo a debilidade física e a doença) confere-nos, por outro, uma faculdade maravilhosa: uma perfeita resignação ao implacável destino! Aceitamo-lo naturalmente! Isto permite-nos concluir, que Deus não dará, certamente, tudo o que pretendemos. Mas, com toda a certeza, não nos tirará tudo, também.

O avanço na idade vai-nos preparando, quase sem nos apercebermos, para tudo o que faz parte da nossa humana existência. Para a vida e também para o que poderá existir para além dela. Assim, para quem é minimamente crente a Deus, o cemitério não é um lugar muito diferente de uma sumptuosa catedral, de uma simples igreja ou de uma humilde capela. Não direi que o devamos encarar, propriamente, como a nossa residência de hoje (que é efémera) mas, talvez, como a nossa casa futura, que é eterna. Afinal não somos, todos nós, meras figuras em trânsito? Não estamos por cá, mais ou menos, a prazo? Ali constatamos a real e implacável fragilidade da condição humana. É o local próprio para serem evocadas as palavras de Fernando Pessoa, através de um dos seus heterónimos - Alexander Search: Quando, depois da lâmpada quebrada / sua luz vacilante se extinguiu / mais que luz por ela derramada / fica a lembrança do que se partiu.

No cemitério jaz sempre alguém que esgotou a vida física que tinha e a quem quisemos muito. Uma ou mais lâmpadas que nos alumiaram até ao seu limite fisiológico: o pai, a mãe, o irmão, o filho, a esposa, o marido ou, simplesmente, o amigo que eternamente recordamos! Por isso, se não sentimos propriamente alegria por visitarmos o Campo Santo somos, pelo menos, invadidos por uma sensação de grande leveza espiritual que nos conforta e estimula a ali rumar. Também, por causa disso, o Santo Lugar é uma morada como outra qualquer. Apenas definitiva!

O cemitério encerra sempre uma boa parte da história dos seus naturais e dos seus residentes, em suma, a história da sua terra. É uma parte adormecida da localidade – podemos dizê-lo! Quando transpomos o Grande Portão e deixamos que os nossos olhos vagueiem pelo granito e mármore que escaldam no tórrido Verão, ou se apresentam enregelados em manhãs de Inverno, sentimos a estranha mas agradável sensação de folhear um livro sobre a nossa terra. A maior ou menor ostentação patenteada na ornamentação das campas recorda-nos que, à superfície, o cemitério não é, propriamente, um espaço de igualdade. Mas, cada foto, cada nome e cada data forçam-nos a efectuar uma retrospectiva no tempo. A conjugação destes testemunhos traz-nos à memória infinitas recordações, mais ou menos longínquas, mas sempre nostálgicas. Quantas vezes, aqueles três factores identificativos, nos fazem lembrar alguém que, há muito, quase se alojara, inexplicavelmente, no nosso subconsciente. E, naquele momento, a nossa mente faz emergir as memórias que, de facto e desse alguém, nunca perdemos. E, então, sentimo-nos nostálgicos mas reconfortados e felizes.

Não é exagerado dizer-se que o cemitério pode ser, também, um local de reflexão. É verdade! Ali, na presença de tantos ausentes, é o espaço próprio para reflectirmos um pouco sobre os nossos comportamentos que, enquanto estamos à superfície, temos perante os outros. Tantas invejas! Tantos ódios! Às vezes, quantos atropelos e quanta maledicência! Afinal tudo acaba ali. Submerso e silencioso! Quantas vezes, neste local, quando pensamos um pouco nisso, nos questionamos: mas então, o que é o Homem? O que vale, ou não, a pena?

O Cemitério de Vidago espelha um pouco a história passada da vila. A mais antiga e também a mais recente. As inscrições que observamos gravadas nas inúmeras lápides, desde as mais visíveis, porque mais recentes, até às mais remotas (já disfarçadas pela erosão do tempo) levam-nos a viajar numa época mais ou menos distante. Depois, lembramo-nos que ali está, inerte, tanta gente! Gente que foi cumprindo o calendário das suas vidas, uns mais precocemente que outros. Gente que teve algum protagonismo social e económico na terra. Mas, também, gente mais discreta, humilde e quase anónima, mas não menos digna que a restante. E toda essa gente, de um modo ou de outro, com maior ou menor protagonismo, deu o seu generoso contributo para a história da vila. Uma história inapagável!

A edificação do Cemitério de Vidago remonta a 1890 e deveu-se, em boa parte, a substancial contribuição da família Borges, naquela altura proprietária da Farmácia Frederico. Esta família terá doado, para o efeito, terreno aos responsáveis autárquicos da época. Em contrapartida estes terão concedido à família Borges espaço para seis campas que se situariam à entrada do cemitério do lado direito. Mais tarde os descendentes da referida família terão abdicado a favor da Junta de Freguesia de três campas. Conta-se que os abastados empresários daquele tempo, João Oliveira e também Nicolau José Teixeira Alves terão contribuído, significativamente, para a edificação da obra. A preceder o Grande Portão, aquelas escassas dezenas de metros de estreita e íngreme ladeira transportam-nos a uma realidade que desejamos sempre distante, mas à qual, inevitavelmente, não fugiremos nunca.

O Cemitério de Vidago pode ser perfeitamente contemplado da parte mais elevada da vila. Mas também do seu interior se avista a parte mais significativa do aglomerado populacional num belo anfiteatro. Aposta na parte cimeira da grande laje, dali observamos a esguia, imponente e bela Torre do Coto, autêntico ex-libris da parte mais habitada da vila. Em dias de sol, o aglomerado populacional, quase compacto, da zona mais alta de Vidago apresenta-se-nos de uma beleza extraordinária. Em minha opinião, a edificação do Cemitério de Vidago naquele local foi de enorme felicidade e bom gosto dos seus promotores. Saibamos honrar a sua memória!

Floripo Salvador
Novembro 2014

sábado, 18 de outubro de 2014

Recordar o Patrício

Recordamos, mais uma vez, o Artur Patrício. Homem que amava Vidago! 
Patrício até escreveu e dedicou o livro "Onde Encontrei a Felicidade", em homenagem aos Exmos. aquistas de Vidago, Exmo.  Director Clínico, Exmos. Médicos, Hoteleiros e a todas as pessoas amigas.


(Aqui nesta fotografia, Patrício como alfarrabista vendendo livros usados)

Uma bela frase que ele costumava dizer:  - Não tenho que pedir perdão a Deus das minhas acções, morro com a minha consciência tranquila pelo bem praticado.


Um abraço e até breve...

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Cruz Caldas, o publicitário ao serviço da VM&PS (6)

A vegetação já se vestiu com as cores do Outono...o Inverno aproxima-se!

O mês de Outubro deve o seu nome à palavra latina octo (oito), dado que era o oitavo mês do calendário romano, que começava em Março  (Martius), em honra do Deus da guerra.

E como diz o provérbio: Logo que Outubro venha, procura a lenha.


Esboço da aguarela para calendário de parede da Empresa Vidago Melgaço  & Pedras Salgadas, com a fonte das águas alcalinas como "pano de fundo". Ilustração de Cruz Caldas enquanto empregado, litógrafo maquetista, na Empresa do Bolhão, no Porto.

Um abraço e até breve...

sábado, 27 de setembro de 2014

Dia Mundial do Turismo

Desde do dia 27 de Setembro de 1980 que se comemora o  Dia Mundial do Turismo e este ano o tema é consagrado ao “Turismo e Desenvolvimento Comunitário”. Este dia visa mostrar a importância do turismo e do seu valor cultural, económico, político e social.

E como Vidago, há muitos anos que é uma vila turística, vamos recordar guias turísticos que ajudavam os turistas a conhecer Vidago e a região do concelho de Chaves.


  (Guia da "Empreza das Águas de Vidago" - gráfica Bolhão)



(Guia "Termas do Norte de Portugal" distribuído pela Araújo & Sobrinho, Sucr. - Porto 1923)


(Guia da "Região de turismo de Chaves" - 1964)


Um abraço e até breve...